segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Joel Malucelli quer aproveitar revolta popular para se candidatar ao governo


Pré-candidato ao governo do Paraná pelo PSD, o empresário Joel Malucelli acredita que pode aproveitar a oportunidade do clima de protestos e de insatisfação com os políticos estabelecidos para tentar abocanhar o poder nativo. Sonho antigo. No momento, ele procura articular o empresariado que clama por mudanças para apoiá-lo. Deu longa entrevista para o Bem Paraná que você pode ler no Leia Mais.

Fundador de um dos maiores grupos empresariais do Paraná, Joel Malucelli deixou o comando do conglomerado que leva seu nome no final de 2012, após um processo de transição de quatro anos. Um ano antes, ele já havia se filiado ao PSD, novo partido montado sob a batuta do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Que logo tratou de lança-lo como pré-candidato ao governo paranaense.
E é nessa condição que Malucelli vê na insatisfação popular com os políticos tradicionais que explodiu nas manifestações de junho uma “janela de oportunidade” para enfrentar esse novo desafio. Mesmo mantendo os pés no chão, ele demonstra entusiasmo com a ideia de disputar a eleição do ano que vem. E considera o momento propício para “novas ideias” e comportamentos na administração pública. Em entrevista ao Bem Paraná, ele fala sobre o que o levou a decidir se lançar nesse meio e o que um empresário pode trazer de diferente para a política brasileira e paranaense.
Bem Paraná – O senhor fundou o grupo J. Malucelli em 1966 e deixou a presidência no final do ano passado. Um pouco antes se filiou ao PSD. Porque?
Joel Malucelli – Foi essencialmente pela companhia, pelas pessoas que compõem o PSD do Paraná. Pela integridade dessas pessoas, e pela ideia de ser um partido diferente. E estou me sentindo muito bem dentro do partido.
BP – E antes do PSD o senhor tinha chegado a cogitar disputar eleições?
Malucelli – Eu fui sondado algumas vezes para ser suplente de senador. Concorrer eventualmente a uma prefeitura de Curitiba. Mas eu não tinha como fazer isso. Minha vida era muito atribulada, eu não tinha como me dedicar à política.
BP – O senhor foi apontado pelo PSD como o principal nome do partido para a disputa pelo governo do Estado no ano que vem. Como recebeu essa indicação?
Malucelli – Isso ocorreu em um momento importante da minha vida, em que eu estava já com disponibilidade. E em um momento em que a gente sentiu que nas últimas eleições, o povo começou a mostrar, a ser um pouco arredio aos políticos profissionais. A grande prova disso foi a decepção da votação do (José) Serra em São Paulo. Então isso acho que fez com que o partido, o PSD, através do deputado (Eduardo) Sciarra tentasse, quem sabe, uma aventura entre aspas, de colocar uma pessoa nova, um empresário, dentro da política.
BP – Até quando o senhor pretende definir se será mesmo candidato ou não?
Malucelli – Na verdade são duas definições, a minha e a do próprio partido. Eu tenho vontade de retribuir ao Paraná tudo o que o Paraná me deu. Acho que tenho competência para fazer um bom trabalho. Agora estou avaliando se isso é possível dentro da minha vida ou não. E o partido está avaliando também as possibilidades. Existem outros nomes fortes dentro do partido. Então não só eu que tenho que decidir. Eu e o partido. Temos um bom tempo pela frente. Eu tenho vontade. Às vezes me dá uma vontade grande porque a gente vê que tem muitas coisas que podem ser mudadas. Mas em contrapartida a missão de governar está cada vez mais difícil. Não sei se o povo está mais exigente ou se os governantes pioraram.
Para empresário, quadro eleitoral está aberto
Bem Paraná – O PSD faz parte da base do governo Beto Richa, inclusive comandando secretarias importantes. Isso também vai ter que ser considerado?
Joel Malucelli – Olha, sempre me foi dito pelo presidente do partido que não existe vinculação nenhuma entre o partido participar de secretariado e um compromisso. Como também o próprio (Gilberto) Kassab (presidente nacional do PSD) tem dito que apesar de o partido ter ministro não existe nenhum comprometimento com o governo federal. Eu acho que o quadro está aberto e as coisas vão se delinear pela frente. O quadro político brasileiro precisa ser mudado. E essas mudanças podem afetar a posição futura da gente.
BP – Como o senhor vê a onda de manifestações que abalaram a política brasileira nos últimos tempos?
Malucelli – Eu acho que as manifestações vieram em uma hora muito boa. Chegou em um ponto em que o povo não aguenta mais. Me olhando como povo eu arrisco a dizer que no Brasil está tudo errado, não são poucas coisas, é muita coisa errada. E o que eu acho que desanimou a população é que ela não sentiu vontade do governo federal em começar a resolver alguns dos problemas cruciais do País. Então acho que isso levou a essa comoção pública por não ter esse horizonte. Acho que a partir do momento em que o governo mostrar esse horizonte o povo vai se acalmar.
BP – As respostas que o senhor tem visto até agora são satisfatórias?
Malucelli – Não. São frustrantes. Porque se você pensar que no Brasil nós precisamos de tantas coisas. Vou citar algumas: reforma tributária, reforma do sistema carcerário. Hoje 80% dos crimes são executados por fugitivos. Reforma política: nós precisamos ter um mandato de presidente da República de cinco anos, sem reeleição. Temos que ter uma reforma trabalhista, nossa CLT já está gagá. Temos que ter uma reforma do meio ambiente para agilizar a liberação dos processos de infraestrutura, dos projetos que o Brasil precisa e que o meio ambiente não está permitindo que isso aconteça. Eu até me atrevo a dizer que se a construção de Itaipu fosse hoje, o meio ambiente não deixaria, tal os rigores que tem aplicado. Na área de segurança, a maioridade penal tem que vir para 16 anos. Tem que rever os indultos que hoje permitem a fuga de prisioneiros. A área de infraestrutura nem se fala, não acontece nada, está tudo amarrado, não se constroi mais nada, não se inaugura praticamente mais nada. A área de educação temos que voltar a ter escolas públicas exemplares, que hoje não temos mais. Lei Rouanet tem que ser revista, um monte de dinheiro que poderia ir para a saúde, educação, hoje vai para fazer livros sobre borboletas. CBF, tem que mexer na CBF. Tem que mexer nas ONGs, tem ONGs boas, mas outras não cumprem o seu papel. Por isso ouso a dizer que no Brasil dá a impressão que está tudo errado. E eu acho que é isso que o povo começou a se revoltar, porque nada disso está sendo providenciado.
BP – E o senhor acha que isso favorece o surgimento de nomes que não são da política tradicional?
Malucelli – Eu acho que o povo está sedento por coisas que ele possa confiar. No poder público, no político o povo está descrente. Uma parte por corrupção, outra parte por ineficiência. E outra parte porque o povo acha que os políticos estão vivendo em outro mundo. E a gente não vê uma boa vontade. Não cai a ficha do homem público do porque que o povo está reclamando.
“O Paraná perdeu tempo, não se desenvolveu”
Bem Paraná – O que um empresário pode trazer de diferente para a política?
Joel Malucelli – Acima de tudo esperança. Porque hoje não se tem esperança no atual quadro político. Em segundo lugar, ideias novas, comportamentos diferenciados. Tocar o Estado em uma gestão eficiente, com equipes mais reduzidas. Hoje o Estado deveria ter dez, doze secretarias fortes, com secretários fortes. Hoje o Estado tinha que ter uma fábrica de projetos para pensar o Paraná daqui vinte anos. Investir muito em projetos para médio e longo prazo. Hoje às vezes você não pode construir nada no Estado porque não tem projeto. Tem que ser uma maneira nova de poder ajudar o Estado. A gente sente que há espaço para ideias novas, novas atitudes. E isso que dá vontade de se envolver em política.
BP – O senhor disse recentemente que o Paraná está estagnado há dez anos. Porque?
Malucelli – Porque não se duplicou cem quilômetros de asfalto no Paraná em dez anos. Porque nenhuma obra de vulto foi inaugurada. Porque não aconteceu nada que ajudasse o Paraná a se desenvolver. O Paraná se sustenta em função da agricultura que é muito forte, dos empresários. O Paraná não pode contar com seus governantes, ou pode contar muito pouco. Deveria contar muito mais porque o Paraná sempre foi um Estado de características desenvolvimentistas e que tinha a obrigação de ser o quarto estado da federação, o quinto. O Paraná perdeu tempo, não se desenvolveu. Não foram criadas as obras de infraestrutura que poderia ajudar a alavancar. Ficou emperrado.
BP – O senhor defendeu que o Estado seja administrado como uma empresa? Mas como fazer isso levando-se em conta a necessidade de acordos políticos?
Malucelli – É justamente isso que tem que ser mudado. A partir do momento em que você demonstra boa vontade em um projeto para o Estado, os interesses particulares têm que ser afastados. Os deputados vão ter que entender que o Paraná vai precisar, quem sabe, de quatro anos de sacrifício, e que eles vão ter que ajudar de outra forma. Não com cargos. Tem que ser um exemplo novo que vai ter que vir de cima.
“O pedágio foi uma ideia boa, mas mal concebida”
Bem Paraná – Uma das questões apontadas por empresários como problemáticas para o setor produtivo paranaense é o pedágio.
Joel Malucelli – O pedágio foi mal concebido. Eu tenho até pena do Requião, do Beto (Richa), porque eles pegaram o bonde andando. Como o pedágio no Paraná foi provavelmente um dos primeiros do País, ele acabou entrando em um processo de quem desconhecia o sistema. E por isso acabaram, os erros que aconteceram, até hoje a população está tendo que suportar. A ideia foi boa, mas foi mal concebida. Tem problemas que são praticamente insolúveis porque são contratos que têm que ser cumpridos. A partir do momento que você rompe contrato você rompe a credibilidade do governo. Então você tem que tentar renegociar. Aí é que está a capacidade do governo de poder de um limão fazer uma limonada.
BP – E qual a avaliação que o senhor faz do governo Beto Richa?
Malucelli – A missão de governar está cada vez mais difícil. Por outro lado nunca foi tão grande a distância entre o que somos e o que podemos ser. Nas últimas décadas a política brasileira amesquinhou-se e ficou desprovida de dignidade, de grandeza. Não querendo fugir da tua pergunta, eu acho o seguinte: o Beto é um rapaz muito bem intencionado, extremamente sério, competente, mas está vivendo um momento em que governar está difícil. Você tantas coisas que o governar quer fazer e não consegue. Primeiro lugar: o Tribunal de Justiça concede liminares que atravancam os projetos e as licitações que estavam em andamento. O Tribunal de Contas, hoje ele tem uma atuação que nunca teve no passado. Ele interfere à priori nas concorrências públicas. O meio ambiente, o que eu conheço de amigos, empresários que estão tentando construir coisas e não conseguem por causa do meio ambiente é uma enormidade. Eu acho que o Beto é um governador que ele tem muita vontade de executar as coisas, eu vejo o entusiasmo dele. Mas hoje está tudo muito amarrado e em consequência disso ele não está conseguindo desenvolver o Estado como o Estado precisa.
“Eleitor não está querendo repetir o voto que já deu”
Bem Paraná – Muitas vezes quando há crises na política tradicional, abre-se espaço para nomes do empresariado, como em Londrina, onde o prefeito eleito, Alexandre Kireff, nunca havia disputado uma eleição. O senhor acredita que isso possa se repetir nas eleições do ano que vem?
Joel Malucelli – Eu acho que espaço maior para nomes novos pode. Mas não podemos ter muito Londrina como exemplo, porque a cidade tem vindo de um processo político muito desgastante, uma sucessão de prefeitos horrorosos. Então lógico que ali o empresário Kireff começou com 0,7% da pesquisa e acabou se elegendo e todo mundo acha que isso pode acontecer na eleição estadual. Pode acontecer, mas no nível estadual a situação do Beto Richa, da Gleisi, mesmo do Requião, é diferente. São candidatos mais fortes, idôneos, que tem uma história, e uma história boa. Então pode acontecer, mas acho que não há muita sinergia entre as duas situações.
BP – O cenário eleitoral para 2014 no Paraná apontava para uma eleição polarizada entre o atual governador e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, com a dúvida de se o PMDB teria ou não candidato. Após as manifestações, acha que cenário se alterou?
Malucelli – Aqui pelo que eu saiba não alterou absolutamente nada. Os candidatos ainda são os mesmos. Hoje o que se comenta é quem será o vice de quem, quem será o senador pela tal chapa. Mas os cabeças de chapa, os candidatos são os mesmos.
BP – Mas aí não é porque não caiu a ficha em que está nesse plano político? A presidente Dilma e governadores de outros estados tiveram quedas significativas em suas avaliações. O senhor não vê isso no PR?
Malucelli – Isso não acontece nem na esfera federal, nem na estadual. Por exemplo: a Dilma que é a grande prejudicada desses movimentos, está falando que até o final do ano vai se reerguer. E o mesmo pode acontecer aqui no Estado, e eu diria em todos os estados. Mas tem tempo. Podem novos nomes surgirem no Paraná. Eu acho que os partidos têm que procurar outras alternativas para oferecer à população. Nós já tivemos muitas surpresas políticas e podemos ter. Porque a gente sente que o povo não está querendo repetir o voto que ele já deu.

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